Fotografia do "Rio Cávado, no Gerês"

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A PIPA E A FLOR


Os caminhos do amor de

Rubem Alves


A história começa com algumas considerações de um personagem que deduzimos ser um velho sábio. Ele observa algumas pipas presas aos fios elétricos e aos galhos das árvores e afirma que é triste vê-las assim, porque as pipas foram feitas para voar. Acrescenta que as pessoas também precisam ter uma pipa solta dentro delas para serem boas. Mas aponta um fator contraditório: para voar, a pipa tem que estar presa numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura na mão de alguém. Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece. Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.

Em seguida, ele narra a história de um menino que confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.

Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado. Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para flor tudo o que vira

Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto. A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim ...

Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com que a pipa estivera se divertindo. A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.

Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.



(Flores colhidas hoje em Vila Nova de Famalicão, numa Primavera antecipada.)
Há três finais possíveis para ela:

1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.

2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.

3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme. Isso aconteceu num belo dia de sol e a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas.


Poucas pessoas conseguiram definir tão bem os caminhos do amor como Rubens Alves, numa fábula surpreendente, cujos personagens são uma pipa e uma flor.

A Pipa e a Flor - São Paulo, Edições Loyola
http://www.geocities.com/nellypenteado/metaf20apipaeaflor.htm





NOTA:Rubem Alves, brasileiro, psicanalista, veio aqui a Portugal algumas vezes, eu tive o privilégio de estar com ele e com Laerte Asnis e sua companhia de Teatro do "Grande Urso Navegante", que adaptou esta obra de Rubem Alves e a exibiu pelas escolas portuguesas. Laerte, sua esposa Valeria e filhos ficaram hospedados por uns dias em minha casa. Representaram a peça na EB1 de Vermoim, em Vila Nova de Famalicão, onde eu dava aulas e era responsável pela Biblioteca Escolar. Foi um momento único para alunos e Encarregados de Educação.

Esta estória mexe realmente com todos e as crianças precisam aprender, desde cedo, que o amor não significa 'inveja, ciúme, prisão', como foi tão bem demonstrado através de uma Pipa (papagaio de papel em português) e de uma flor.

Aqui neste vídeo podem ver Laerte representando a peça em escolas. Podem ver, também, Rubem Alves visivelmente emocionado a falar para as crianças, no final do vídeo.




Rubem Alves

"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos

fragmentos de futuro em que a alegria é servida como

sacramento, para que as crianças aprendam que o

mundo pode ser diferente. Que a escola,

ela mesma, seja um fragmento do

futuro..."


Neste site: Releitura, resumo biográfico e bibliográfico de Rubem Alves
http://www.releituras.com/rubemal
ves_bio.asp


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Museu da Indústria Textil - VNFamalicão



A história recente do Vale do Ave, região em que o concelho de Vila Nova de Famalicão se insere, é indissociável da história do advento e implantação da indústria têxtil que, a partir de meados do século XIX lhe veio trazer novos ritmos económicos, sociais, culturais, diferentes formas de vida e profundas alterações paisagísticas.

No concelho de Vila Nova de Famalicão esta história remonta a 1896, data em que a primeira fábrica têxtil algodoeira moderna - a Sampaio, Ferreira & Cª - é fundada em Riba de Ave.

É esta história que o Museu da Indústria Têxtil procura preservar e transmitir: a história das fábricas, dos meios de produção, das alterações económicas; mas também a história das milhares de pessoas cujo percurso de vida se revê nesta actividade; e ainda as profundas transformações paisagísticas da região.

Procurando uma profunda inter-ligação tema-meio, o Museu da Indústria Têxtil tem necessariamente como missão contribuir para a identidade de uma população entre si, abolindo num tecido histórico comum a existência de possíveis diferenças. Mas também contribuir para a sua identidade com um espaço e tempo próprios, contra o anonimato em que o correr da história, de outro modo, forçosamente a lançaria, devolvendo à comunidade local a memória do seu próprio passado.




A sul de Vila das Aves, corre o rio Vizela, afluente do Ave, ao qual se junta ... a maior fábrica de fiação e tecidos da península),...

Fábrica de Fiacção e Tecidos Rio Vizela, na Vila das Aves. Fundada no séc. XIX.


Uma jovem trabalhando num tear na Fábrica Rio Vizela... mais tarde passando para a Fábrica Sampaio, Ferreira & Cª, em Riba D'Ave.



Uma Saudade para ser sempre guardada no coração.

(-Quantas noivas vestiste, as tuas mãos de fada levaram-te a criar verdadeiras obras de arte num país que não era o teu. Lindo canto de cisne!...)



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Casa-Museu Soledade Malvar - VNFamalicão



Casa-Museu Soledade Malvar
Maria da Soledade Ramos Malvar Osório nasceu a 19 de Agosto de 1909, na Quinta da Portela, freguesia de Antas, concelho de Vila Nova de Famalicão. Desde criança que Soledade Malvar sonhava ser artista – chegou mesmo a receber aulas de canto – mas foi a arte das antiguidades que lhe proporcionou a sua realização pessoal e profissional. Por ela se apaixonou e aí encontrou oportunidade para concretizar os seus anseios.
A vivência cultural e a rica experiência profissional de antiquária aliada à convivência social, mas sobretudo a devoção à arte, e ao gosto pela leitura – sua íntima companheira de infância que ainda hoje cultiva – permitiram-lhe ir seleccionando com paixão, mas também com sabedoria e rigor uma colecção de arte, riquíssima, original e diversificada, onde as jóias em ouro e prata, as faianças e a pintura convivem em perfeita harmonia com o mobiliário dos séculos XVIII e XIX, e a arte sacra, onde se destaca uma imagem do séc. XVI.

A ideia de doar ao povo o fruto do seu trabalho acompanhava-a há muitos anos. A conjugação de vários factores proporcionou que este seu desejo se consumasse através de um acordo com a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, que consignou o compromisso da autarquia em construir uma Casa-Museu, mediante a cedência da sua colecção de arte e do imóvel que o acolhe, projectado pelo Arq. Eduardo Martins e construído nos anos de 1955/57, pelo Eng. Pinheiro Braga.
A Casa-Museu Soledade Malvar foi inaugurada pelo presidente da Câmara Municipal, Armindo Costa, em 29 de Setembro de 2002.
Para além da exposição permanente a Casa-Museu dispõe ainda de uma galeria para acolhimento de exposições temporárias.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

2009 - VNFamalicão - Bernardino Machado

"TUDO NO UNIVERSO CAMINHA ANSIOSAMENTE PARA A LIBERDADE"



"CORAGEM? NUNCA ME FALTOU!"



- PIONEIRO NA DEFESA DA CIDADANIA FEMININA



"SER INSTRUÍDO É SER LIVRE!"

O MUSEU DE BERNARDINO MACHADO, em Vila Nova de Famalicão:



http://www.aebmachado.com/?i=main_menu&dn=22&n=23&pt=AGRUPAMENTO

«...à conversa com Júlio Machado Vaz, oriundo da família que celebrizou o Solar de Mantelães, bisneto do Presidente da República Bernardino Machado, que passou os últimos anos no recato de Paredes de Coura e que por cá deixou raízes. O que o liga a Paredes de Coura?
Sou bisneto de Bernardino Machado e o mais novo da minha geração, passei a juventude a escutar as histórias das reuniões familiares em Mantelães...» (Notícias de Coura)


http://www.noticiasdecoura.com/index.php?pag=noticia_detalhes&recordID=3181
Bernardino Luiz Machado Guimarães, nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de Março de 1851, filho de pai português e de mãe brasileira.
Regressando a Portugal, em 1860, a família estabeleceu residência na freguesia de Joane, onde possuía alguns bens de fortuna.
Em 1872, atingindo a maioridade, o futuro estadista, declarou na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que optava pela nacionalidade portuguesa.
Vocacionado para uma carreira científica, pedagógica e política tão brilhante quanto invulgar, nunca enjeitou a sua ascendência popular e nortenha, apesar de o pai ter entretanto adquirido, por decreto real, o título de Barão de Joane.
Com 28 anos de idade, era já catedrático na Universidade de Coimbra. Desempenhava as funções de Professor universitário, acumulando a regência de várias cadeiras com outros cargos ligados àquela instituição de ensino. Como escreveu o Professor Doutor Rogério Fernandes, profundo conhecedor da actividade do estadista em prol da instrução, poderemos concluir: “ (...) O pensamento e a acção de Bernardino Machado tem como pólos essenciais a democratização do acesso ao ensino, em condições de igualdade e a transformação dos seus conteúdos em ordem a ligá-los à vida, ao trabalho, à ciência, à cultura...”.
É sobretudo nesta última perspectiva que a obra pedagógica do professor e do homem público ainda hoje nos impressiona pela “actualidade” das suas ideias.
Como político, Bernardino Machado foi Deputado Regenerador (desde 1882 até 1886), Par do Reino (1890 até 1894), Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria (1893).Em 1903 aderiu ao Partido Republicano. Proclamada a República, desempenhou, sucessivamente, os cargos de Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Provisório (1911., Senador, Ministro de Portugal no Brasil (1912), Chefe do Governo (1914) e Chefe de Estado (1915 a 1917).
Foi deposto de Chefe de Estado e exilado em França. Regressou a Portugal em 1919 e, pela segunda vez, percorreu os cargos de Senador, Chefe do Governo e Presidente da República (1925).Em 28 de Abril de 1944, terminava uma vida conduzida até ao fim pelo perfil que desde sempre o caracterizou: “ (...) O homem público só para os outros vive, consumindo-se”.
Está sepultado no Cemitério Municipal de Vila Nova de Famalicão. É ainda de referir que permanece intacta a casa de seus pais na Vila de Joane, no lugar de Cividade.
Na cidade de Vila Nova de Famalicão, nasceu, entretanto, no Palacete Barão da Trovisqueira, o Museu Bernardino Machado.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Por Terras Camilianas (2009)

Quando se fala da "Língua Materna" fala-se de Camilo Castelo Branco...



OS AMIGOS

Amigos cento e dez, e talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia!
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.

Amigos cento e dez, tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que eu, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.

Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez, houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.

– Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!


Um poema de Camilo Castelo Branco




A casa chamada de Camilo foi construída por Pinheiro Alves, em 1830, quando regressou do Brasil, na posse de avultada fortuna.
A 17 de Março de 1915, um violento incêndio devorou completa e inexplicavelmente a moradia.

Formou-se uma Comissão de Homenagem ao Escritor que adquiriu em 17 de Abril de 1917, a Ana Rosa Correia e filhos, as ruínas e o quintal contíguo, bem como a livraria restante de Camilo, alguns autógrafos, correspondência de amigos e admiradores, mobiliário e objectos diversos.

Na reconstrução, a casa saíria muito adulterada, pois a instalação da escola primária da freguesia de Ceide no rés-do-chão e os requisitos técnicos a que para esse fim teve de obedecer, como a cubagem da sala de aula, alteraram-lhe certas características estruturais, em especial o pé direito e as janelas.

Concluídas as obras, a Comissão de Homenagem entregou á edilidade famalicense a casa reedificada, ficando esta responsável pelos encargos futuros das instituições ali fundadas: a Escola Primária e o Museu Camiliano. http://www.geira.pt/CMCamilo/


No dia 10 de Junho de 2008 houve a 2ª Caminhada Camiliana que foi entre a Estação da CP de Vila Nova de Famalicão e a Casa de Camilo (10 km). Um percurso que Camilo fazia sempre que viajava.
Fica aqui uma amostra figurada, Camilo em boa companhia com os Senhores da Época, com quem se relacionava, como Bernardino Machado.
Não faltou o burro-doutor (piada de Camilo), cantares ao desafio e o assalto do Zé do Telhado (amigo de Camilo).
10 de Junho de 2008 - Caminhada Camiliana


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Um olhar sobre Famalicão

Rebobinando... 

 "Encontro "mário cesariny" - na Fundação Cupertino de Miranda (2008)

voz numa pedra

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny

Uma breve caminhada pela cidade de Vila Nova de Famalicão, o local que deu seguimento aos meus passos...


10 de Fevereiro de 2008

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Trás-os- Montes - marcadamente agreste

Trás-os-Montes

Sentida terra
Marcadamente agreste
De límpidos silêncios
Minha terra
De tons castanhos
E gestos quentes
Onde se festeja sem frio
O espírito d'Inverno
Com o calor do amor
E a cor da vida
Onde o calor baila
Com a calma da alma
Da terra sentida

Augusto Guedes

http://www.bragancanet.pt/balbinamendes/poesia.htm#Tons_Poesia