Rosa Ramalho aos 86 anos (1973). Fotografia de Carlos Coutinho.
Rosa Ramalho OSE (1888-1977) é o nome artístico de Rosa Barbosa Lopes, barrista e figura emblemática da olaria tradicional portuguesa.
Rosa Ramalho nasceu a 14 de Agosto de 1888 na freguesia de São Martinho de Galegos (concelho de Barcelos). Filha de um sapateiro e de uma tecedeira, casou-se aos 18 anos com um moleiro e teve sete filhos. Aprendeu a trabalhar o barro desde muito nova, mas interrompeu a actividade durante cerca de 50 anos para cuidar da família. Só após a morte do marido, e já com 68 anos de idade, retomou o trabalho com o barro e começou a criar as figuras que a tornaram famosa. As suas peças simultaneamente dramáticas e fantasistas, denotadoras de uma imaginação prodigiosa, distinguiam-na de outros barristas e oleiros e proporcionaram-lhe uma fama que ultrapassou fronteiras.
Foi a António Quadros que se deveu a descoberta de Rosa Ramalho pela crítica artística e a sua divulgação nos meios "cultos". Foi a primeira barrista a ser conhecida individualmente pelo próprio nome e teve o reconhecimento, entre outros, da Presidência da República, que em 9 de Junho de 1980 lhe atribuiu o grau de Dama da Ordem de Sant'Iago da Espada. Em 1968 tinha-lhe sido também entregue a medalha "As Artes ao Serviço da Nação".
Sobre a artista há um livro de Mário Cláudio (Rosa, de 1988, integrado na Trilogia da mão) e uma curta-metragem documental de Nuno Paulo Bouça (À volta de Rosa Ramalho, de 1996). Actualmente dá nome a uma rua da cidade de Barcelos e a uma escola EB 2,3 da freguesia de Barcelinhos. Há também a possibilidade de que se venha a transformar a sua antiga oficina, em São Martinho de Galegos, num museu de olaria com o seu nome.
O seu trabalho é continuado actualmente pela neta Júlia Ramalho.
(As fotos de cima são destas duas lojas, em Barcelos, na zona histórica da cidade)
Fotos de Lucília Ramos
Júlia Ramalho
Júlia Ramalho é uma barrista portuguesa nascida em São Martinho de Galegos (concelho de Barcelos) a 3 de Maio de 1946. Neta de Rosa Ramalho, de quem foi discípula desde muito nova, herdou da avó o gosto pela olaria e o talento criativo. Medusas, bacos, diabos trovadores, figuras fantásticas, o Padre Inácio e Os sete pecados mortais são algumas das peças mais famosas da artista.
Segundo Júlia Ramalho, neta Rosa Ramalho, “a minha avó dizia que via demónios e contava-me histórias de feiticeiras e eu acreditava em tudo”.
É assim que se recorda desta personagem que marcou a cena artística portuguesa entre o final da década de 50 até ao seu falecimento, em 1977.
Para Júlia Ramalho, os visitantes faziam parte do dia-dia e mesmo quando o Estado Novo tentou aglutinar a obra da sua avó como instrumento de propaganda, manteve a sua autonomia. Eram muitas as personalidades que faziam a vilegiatura até Galegos: ”O Dr. Salazar só vimos uma vez no Museu de Arte Popular, mas o Américo Thomaz passou uma vez por aqui, o povo reuniu-se para ver a comitiva, a minha avó estava a assistir, ele viu-a e mandou parar o carro só para cumprimentá-la. A minha avó tratava-o tu cá tu lá.”
Os artistas chegavam sempre nos dias de folga e ficavam o dia todo, como Raul Solnado, Eunice Muñoz, José Viana. A Amália aparecia regularmente: “Uma vez veio fazer um filme na casa da minha avó, chegou de madrugada com várias pessoas. A minha avó ia cedo para a cama, mas lá abriu a porta e foi arranjar pão em Barcelos para matarem a fome”, recorda Júlia Ramalho.
As idas a Lisboa são frequentes, para participar nas feiras de artesanato onde recebe estímulos e carinho de um público diversificado. Mas a ceramista tem a idade avançada. Em Dezembro de 1977 uma hérnia que tinha piorou. e acabou por falecer.
“Viveu muito pobre e trabalhou até morrer”, resume Júlia Ramalho.
Museu de Olaria - Barcelos
(foto de Lucília Ramos)
Centro de Documentação de Olaria - Interrupção da actividade
Informamos os nossos utilizadores que, em virtude das obras de remodelação e valorização do Museu de Olaria, o Centro de Documentação será encerrado de Agosto de 2009 a Fevereiro de 2010.