Neste ano de 2012, ano em que Guimarães é a capital da cultura, este dilema será resolvido?
D. Afonso Henriques
D. Afonso Henriques
Guimarães
Resende - Viseu
De Guimarães ou de Viseu?
De Guimarães ou de Viseu?
A 15 de Agosto comemoram-se 900 anos do nascimento de Afonso Henriques. A dúvida é onde nasceu.
(Rui Cardoso e Nair Alexandra
23:50 Quinta-feira, 19 de Mar de 2009
Texto publicado na edição do Expresso de 14 de Março de 2009 - Actualidade)
Na esquina da Praça do Toural, em Guimarães, uma inscrição na muralha medieval proclama: "Aqui nasceu Portugal!". Poder-se-á dizer o mesmo acerca do primeiro rei? Avolumam-se dúvidas. O historiador José Mattoso, na biografia de D. Afonso Henriques (Círculo de Leitores, 2006) admite a hipótese de Viseu como "verosímil", ainda que não possa ser tomada "como uma certeza". A 15 de Agosto comemoram-se os nove séculos do nascimento do Fundador e já há comemorações paralelas, umas em Guimarães e outras em Viseu. As autarquias mostram-se prudentes, evitando grandes polémicas. Até porque já num passado recente os ânimos se exaltaram.
Alguns historiadores acham a polémica menor. É o caso do arqueólogo Cláudio Torres para quem "discussões sobre o local exacto de nascimento pouco ou nada adiantam". José Varandas, responsável do Centro de Estudos de História da Faculdade de Letras de Lisboa, concorda e acrescenta o seguinte: "O local de nascimento é irrelevante para a compreensão de quem foi D. Afonso Henriques. Na sociedade da época, um jovem fidalgo só começava a existir como pessoa a partir dos sete anos, altura em que era entregue a outra casa nobre para começar a ser educado e treinado na arte da guerra".
Dúvidas avolumam-se
Como se refere no outro texto, não faltam mitos acerca do primeiro rei. Para gerações de portugueses, Guimarães berço afonsino foi uma certeza, sustentada numa crónica do século XV, em tradição anterior e nas origens familiares do soberano. Mas há cada vez mais dúvidas.
Na apresentação do programa comemorativo vimaranense escreve-se: "não é nosso propósito aclarar, com estas comemorações, dúvidas históricas que de quando em vez se animam, e que apenas encontrarão resposta no labor de investigadores e medievalistas".
E alguns inclinam-se para Viseu, cuja Câmara prepara um leque vasto de iniciativas para o Verão. "Falar tanto de Viseu é curioso, por ser a capital mítica da resistência visigótica", comenta José Varandas. Ali foi lendariamente sepultado Rodrigo, o último rei godo, de resto 'enterrado' em vários outros locais...
Como se refere no outro texto, não faltam mitos acerca do primeiro rei. Para gerações de portugueses, Guimarães berço afonsino foi uma certeza, sustentada numa crónica do século XV, em tradição anterior e nas origens familiares do soberano. Mas há cada vez mais dúvidas.
Na apresentação do programa comemorativo vimaranense escreve-se: "não é nosso propósito aclarar, com estas comemorações, dúvidas históricas que de quando em vez se animam, e que apenas encontrarão resposta no labor de investigadores e medievalistas".
E alguns inclinam-se para Viseu, cuja Câmara prepara um leque vasto de iniciativas para o Verão. "Falar tanto de Viseu é curioso, por ser a capital mítica da resistência visigótica", comenta José Varandas. Ali foi lendariamente sepultado Rodrigo, o último rei godo, de resto 'enterrado' em vários outros locais...
Na referida biografia, o medievalista José Mattoso lembra a agitação em Guimarães, em Março de 1990, quando José Hermano Saraiva por lá passou. Saraiva era responsável de um "Dicionário Enciclopédico da História de Portugal" (Selecções do Reader's Digest) que incluía um artigo do catedrático Torquato de Sousa Soares, situando o nascimento em Coimbra.
Os locais irritaram-se e até o então presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado, foi ouvir o professor. Este afirmou adoptar a tese vimaranense e as hostes acalmaram. Mas não por muito tempo.
Os locais irritaram-se e até o então presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado, foi ouvir o professor. Este afirmou adoptar a tese vimaranense e as hostes acalmaram. Mas não por muito tempo.
Investigador muda de posição
O investigador Almeida Fernandes, com obra vasta sobre a época afonsina, colaborara com a Sociedade Martins Sarmento, uma das mais importantes instituições culturais de Guimarães. Mas lançou, em 1993, o livro "Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques".
Aí explicava que o seu trabalho resultara de uma encomenda da associação cultural Unidade Vimaranense, na sequência da polémica com Hermano Saraiva. Mas que, ao escrever, se convencera do fundamento da hipótese Viseu.
Esgotada a obra e falecido o autor em 2002, houve reedição póstuma em 2007, já com a chancela da Fundação viseense Mariana Seixas. Mattoso, algumas vezes criticado por Almeida Fernandes, acaba por ponderar os argumentos deste. Na citada biografia, sublinha que documentos quase contemporâneos dos acontecimentos confirmam o nascimento em 1109. D. Teresa passou a maior parte desse ano em Viseu.
"Sendo a tese de Almeida Fernandes aceite pela comunidade científica, não podemos enjeitar tão ilustre filho", afirma o vereador da Cultura da Câmara de Viseu, José Moreira Amaral. Contudo, "não celebramos os 900 anos do nascimento contra ninguém e muito menos contra Guimarães". O autarca diz não querer "uma discussão política" porque está em causa "uma discussão científica". E acrescenta ter o presidente da Câmara, Fernando Ruas, proposto "comemorações em conjunto a Guimarães". Iniciativa que fonte bem colocada da autarquia vimaranense disse ao Expresso desconhecer.
Viseu começou a celebrar a efeméride esta semana. Três exposições documentais e de arte medieval, em Julho, e um grande congresso internacional, entre 16 e 19 de Setembro, são os pontos altos das comemorações, comissariadas pelo medievalista João Silva de Sousa.
O município de Guimarães preparou com instituições locais o programa "900 anos, 900 horas". Exalta-se um rei ligado aos vimaranenses, "que por eles foi apropriado como filho da terra e cujo destino determinou (...) o destino da própria cidade e das suas gentes". 24 de Junho é o momento mais alto das festas, com a recriação, no campo de São Mamede, do confronto entre os partidários do príncipe e da sua mãe.
As discussões sobre o mito e a realidade histórica vão continuar. Como disse Mattoso ao Expresso, "uma coisa é a História, outra é a reacção colectiva em torno de uma personalidade fundadora da comunidade".
GUIMARÃES:
4 comentários:
Bom dia, Lucy. Parabéns pela excelente reportagem fotográfica de Resende ( Viseu ) e de Guimarães.
Sabia da existência dessa polémica sobre o local de nascimento de D. Afonso Henriques. Ouvi falar disso em Viseu. Não liguei muita importância, porque Viseu, cidade do interior muito bela, é uma terra de contrastes: tanto fazem manifestações violentas contra os homessexuais, como dizem que o Viriato não é de lá, como surgem vozes corajosas clericais a defenderem o uso do preservativo contra a vontade e sapiência de Sua Santidade! Mas pelos vistos agora é a sério! E é engraçado as duas aurarquias terem festas marcadas para Agosto. Bom vinho do Dão em Viseu e bom berde em Guimarães...Eu já optei pelo maduro do Dão. Em matéria mais intelectual estou com Cláudio Torres: o local de nascimento pouco importa. Mas que a polémica está instalada, está. Mais uma vez, perto de mim, ouço a Maria da Fonte à bulha com o Zé do Telhado. Este, porque tem más lembranças da Relação do Porto, puxa por Viseu. Ela, que se apaixonou por ele no Minho e por terras mais a Norte, chora e torce por Guimarães. Logo se calarão. Por mim, deixo-os em paz, saio da cabana e volto a ver os teus slides em descanso. Até que a cana dá um esticão, o peixe pica e lá caiu mais um barbo para o meu almocinho. Tenha um bom dia sra professora que muito estimo.
Eduardo
Boa noite, Eduardo!
Como sempre, és um amigo atento às minhas reportagens, como lhes chamas. Agradeço o teu apreço. Quanto ao nosso fundador, digo que quantas mais celebrações melhor, assim, todos havemos de aprender um pouco mais sobre a fundação da nossa pátria, ou ficar mais duvidosos.
Cá por mim, seja D. Afonso de Guimarães ou de Viseu, não me faz confusão. Também a Maria da Fonte é da Póvoa de Lanhoso e há quem a considere de Vila Nova de Famalicão. Também sei de uma estátua dela aí para os lados de Lisboa.
Como a História de Portugal andará 'aldrabada'!? Uma vez, um amigo meu disse-me que tínhamos de nos preparar para os segredos que iriam ser revelados, a seu tempo.
Desde criança que na escola eu ficava 'duvidosa' da nossa história, como nos era contada.
Houve um tempo em que no ensino não havia a disciplina de 'História de Portugal' mas 'Perpectiva histórica' - eu fui uma defensora desta última, por sentir que muita coisa foi inventada e falseada.
Aguardemos pelas revelações que não nos deixem dúvidas.
Fica bem e dá saudações ao Zé, diz que não vale a pena 'ralar-se mais...!'
Beijinhos e dorme bem.
Lucy
Gostei muito desta música!E das fotos, belíssimo negro profundo com tons de laranja doirado... As palavras, não as li, sorry*
Patinha
Querida Patinha,
Já tinha saudades tuas!!!
Fica por aqui, neste lago da calmaria e absorve esta música lindíssima deste grupo Pedra D'Água. (São da minha zona e conheço-os bem - geralmente não falto a concertos deles).
Beijinhos, Patinha fugidia!
Lucy
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