"Carta à Fani"
(Hoje faz 43 anos que me casei... estou só na foto porque o meu Luis não está connosco... está comigo... e eu ainda não sou capaz de o expor... estou-me a ver ao espelho e são duas "Fanis" porque eu fui feliz a dobrar... fui muito amada. - Fani, em 15/09)
Uma lágrima assomou ao olho e uma comoção enorme ao coração... estava em Tortosendo, a terra que vira nascer a Fani. E eu pensava que jamais visitaria as 'lembranças' da minha amiga...
Tanto me lembrei de tudo o que contaste sobre a vida dura daqueles tempos... os tempos que transformaram a neve em lã no teu coração: o imaginar-te assim, pequenina, como sempre o foste, mas ladina, com o desejo enorme das histórias contadas e imaginadas que ias sorvendo à luz da vela, os afetos que perdeste e ganhaste com a partida antecipada da tua mãe, o teu pai que se revoltava contra o fascismo e lutava por uma vida mais digna, ganhando em troca a prisão pela PIDE, o irmãozinho que criaste como se fora teu filho, o enorme coração que cresceu mais que a medida da tua altura de gente... tudo isso não saiu nem por um momento da minha mente.
Tentei rever-te ali, naquela terra que assistiu aos teus primeiros passos... e deu-me a sensação que pouco achei, procurei nas casas humildes e senhoriais, que se avistavam da estrada, na fábrica em ruínas, na praceta, nas pessoas que poderiam assemelhar-se à tua vivência, mas não tive eco!
Só o rio.. o rio Zêzere me falou de ti... porque riu alto, saltou pelas pedras com aquela alegria cristalina de quem sabe sempre que tem um destino à sua espera e nada o poderá travar... ele, sim, tinha a tua garra, a tua paixão pela vida, a tua estatura no olhar, por saber contornar todos os obstáculos... (lembras-te como te elevas 'em bicos dos pés' quando queres que a tua voz sobressaia sem microfone? Pois eu lembro-me - no Dia da Mulher, aqui em Famalicão - e noutros momentos).
Não me esquecerei nunca da "professora" perdida no meio da floresta encantada dos seus príncipes... aquela que eu 'percebi' na sala de aula que partilhavas comigo - e, quando te procurava entre os pequenos achava-te tão pequena quanto eles, todos sentados no estrado da sala, envolvidos nas mais belas histórias que ainda não tinham ouvido... e eu também não, como quando me falavas da tua infância, porque eras real, tangível, porque o sentimento expressava-se em todo o teu corpo... nas tuas memórias, nas leituras que fazias da "tua amada Serra".
Fani, és a mulher dos "Afetos"... dos teus netos, dos filhos teus e dos outros, do teu amado Luís..., na mais terna canção de amor que a Estrela da Serra te pôde oferecer para quando fosses grande (e como o foste!)...
Tu és o livro vivo, a verdadeira história de encantar!...
Ler-te... é um prazer!
Em 1927 o Tortosendo foi elevado a Vila, tendo neste ano sido inaugurada a rede eléctrica na vila. Os teares mecânicos, movidos a outras formas de energia deram lugar a teares eléctricos, levando à melhoria da produção, em qualidade e quantidade. A partir desta data o progresso é vertiginoso. Algumas das suas fábricas adquirem fama no país. Os empresários e até certo ponto a Vila conheceram uma época de abundância que se prolongou até à década de 50. Ainda em 1955 havia no Tortosendo 19 fábricas de lanifícios com um número total de 502 teares, 27 caneleiras, 8 meadeiras, 22 bobinadeiras e 8 urdideiras.
2 comentários:
Comentários, como?
Só são pociveis de quem vive as histórias.
Campista,
Bom dia!
Todos os comentários são possíveis, basta entramos na história... :)))
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